DOM BASÍLIO PENIDO, OSB
(* 1914 + 2003)
102º ABADE DO MOSTEIRO DE OLINDA
ABACIADO: 1962 até 1987
BIOGRAFIA DE UM GRANDE ABADE
"Desde adolescente, o carioca José Maria Penido Filho (futuro dom Basílio), de Copacabana, pensava em ser padre. O coral dos jesuítas, de que fazia parte quando era aluno do Colégio Santo Inácio, lhe despertou o desejo de seguir as pegadas dos mestres. Estava decidido a ser jesuíta. Pouco depois que terminou o ginásio, entrou no noviciado da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo (RJ), mas o pai, almirante José Maria Penido, mesmo não se opondo à vocação do Juca (apelido do jovem), fez-lhe ponderar que seria bom passar antes por um curso superior. Juca deixou o noviciado e formou-se em medicina, na Praia Vermelha, onde funcionava a maioria das faculdades da então Universidade do Brasil.Companheiro de primeiras letras de Vinícius de Moraes, Juca achou que sua vocação não seria a de médico. Tampouco, a de simples poeta. Enquanto freqüentava a faculdade começou a participar das reuniões de um grupo de jovens da Ação Universitária Católica (AUC), que tinha surgido por obra e graça do professor Alceu Amoroso Lima, recém-convertido ao catolicismo. O grupo reunia-se no Centro Dom Vital (fundado em 1932) e, pouco depois, Juca conheceu o monge beneditino dom Martinho Michler, que pregou um retiro memorável para os rapazes da AUC.Em 1933, Juca resolve também ser monge, mas sem pressa. Seguiria a trilha dos Penido, que tantos e tão ilustres sacerdotes deu à Igreja: o jesuíta João Bosco Penido Burnier, morto a tiros em 1976; o surdo-mudo padre Vicente Penido Burnier; o dominicano e exegeta bíblico frei Martinho Penido Burnier; e o padre Maurílio Teixeira Leite Penido, teólogo de fama internacional. Começou por participar do primeiro curso de teologia que os beneditinos organizaram para leigos no Brasil.A 7 de dezembro de 1935, Juca - então com 23 anos e depois de ler a História de uma alma, de Santa Teresinha do Menino Jesus - entra para o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. Na portaria, fuma seu último cigarro.Dois anos depois, ingressa no noviciado e recebe o nome de Basílio, em homenagem a São Basílio de Cesaréia. Depois de ordenado sacerdote (7/12/35), dom Basílio foi diretor da Editora Lumen Christi, do mosteiro, e começou a lecionar filosofia e religião no Colégio São Bento, do qual se tornou reitor (1948-54). Além de dirigir os estudos, introduziu um novo estilo de relacionamento entre reitor e alunos. Com eles jogava bola e sempre arranjava tempo para ouvi-los e ajudá-los a resolver problemas pessoais.Em 1960 foi nomeado prior do mosteiro carioca, mas no ano seguinte os superiores mandaram-no para o mosteiro de Olinda (PE) a fim de assumir o lugar do velho abade dom Bonifácio Jansen. E em 1972 foi eleito abade presidente da Congregação Beneditina Brasileira - o cargo máximo da Ordem de São Bento no Brasil, com 24 mosteiros (nove masculinos e 15 femininos). De todos os monges e monjas, ele se sentia verdadeiro pai. Quando fez 80 anos, ele se disse muito feliz por ser monge e ter sido eleito abade, abbas, pai: ""Me dá a oportunidade de exercer a paternidade espiritual"". Durante os 24 anos em que foi abade (1972-96), dom Basílio mostrou bem ser a pessoa indicada para o cargo. Já em 1967 (dois anos depois de concluído o Concílio Vaticano II) ele tinha fundado a Comissão de Intercâmbio Monástico do Brasil para aproximar mais entre si as famílias religiosas de diferentes origens que vivem no Brasil e seguem a regra de São Bento (congregações brasileira, americana, francesa, ita liana e húngara, congregação das irmãs missionárias beneditinas de Tutzing, cistercienses e trapistas).Responsável número 1 pela família beneditina brasileira, dom Basílio conseguiu da Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares, do Vaticano, duas mudanças consideradas até então impossíveis: a retirada das grades por trás das quais vivem as monjas enclausuradas e a faculdade de as abadessas poderem participar na eleição dos superiores da Ordem. Graças também a ele, foram fundados no Brasil oito mosteiros femininos. A ele, ainda, se deve a fundação de três mosteiros masculinos: Ponta Grossa (PR), Garanhuns (PE) e Brasília.Em 1987 dom Basílio renunciou ao cargo de abade de Olinda e, três anos depois, foi para o mosteiro de Brasília, fundado pessoalmente por ele e construído perto da Ermida de Dom Bosco, no final do Lago Sul. Desse mosteiro ele foi prior de 1990 a 1996. Neste ano voltou para Olinda, até que em junho de 2000, regressou, doente, ao mosteiro do Rio. E aqui, no dia 10 de setembro seguinte, sofreu um derrame cerebral de que resultou a hemiplegia no lado direito.Durante 24 anos dom Basílio foi membro do Sínodo da Ordem de São Bento, do qual fazem parte o abade-primaz (superior geral) e os outros 21 abades-presidentes das demais congregações beneditinas confederadas. E muitos anos também integrou a diretoria nacional da Conferência dos Religiosos do Brasil e foi dela presidente regional no Recife.Era um homem culto. Além do inglês que aprendeu com sua governanta, dom Basílio falava francês fluentemente. Fez o primário em Paris, no mesmo colégio em que estudara Guy de Fontgalland (menino que morreu com fama de santo), quando o pai era adido naval do Brasil junto à Liga das Nações. Foi sempre um apaixonado pela literatura francesa. Leu Bernanos e Mauriac, Péguy e Psichari, Claudel, Marcel e Mounier. Toda a literatura católica francesa lhe era familiar, de Pascal a Maritain. Foi amigo pessoal de Georges Bernanos. Muitas vezes o autor do Diário de um pároco de aldeia (que viveu em Barbacena, MG, nos anos 1938-45) subiu a ladeira do São Bento para conversar, horas a fio, com dom Basílio - um jovem precocemente calvo, magro, alto, sempre de hábito negro e que lhe abria um sorriso fraternal. Um dia, Bernanos escreveu num de seus livros a seguinte dedicatória: ""Para dom Basílio, o filho que não mereci, o filho de que não fui digno e que respeito como se fosse meu pai"".Dom Basílio foi a encarnação de um verdadeiro líder. Nenhum problema político e social lhe era indiferente em se tratando do povo a que o ligava sua vocação de monge e cristão, do que deu sobejas provas no Nordeste. E nos anos mais negros da ditadura militar mostrou extraordinária coragem ao denunciar as torturas e os maus-tratos sofridos pelos presos políticos em dependências militares do Recife. Amigo pessoal do marechal Castello Branco e dos generais Antônio Carlos Muricy e Alfredo Malan, com eles soube dialogar mas sem deixar nunca de tomar posição em favor dos perseguidos. Chegou mesmo a esconder em celas do seu mosteiro jovens que o Dops procurava.
Depois de dois anos e oito meses doente com hemiplegia em decorrência de um derrame cerebral, morreu nesta segunda-feira, dia 2 de junho de 2003, aos 88 anos, no Mosteiro de São Bento. O enterro deu-se no claustro do Mosteiro de São Bento, a seguir à missa de corpo presente, às 10h, de 3 de junho."
FONTE: CATOLICANET
POSTADO POR
Osmar Lucena Filho